The FADE OUT é um dos grandes romances gráficos dos comics contemporâneos, escrito por um dos grandes, ED BRUBAKER, o autor entre outros, de "Capitão América: O Soldado do Inverno", e das séries VELVET e FATALE, esta última desenhada também por Sean Phillips, que também desenhou The FADE OUT.

O que muitos não sabem, é que Brubaker é sobrinho de um dos grandes argumentistas da era de ouro do cinema americano, John Paxton, que foi responsável por inúmeros guiões de Hollywood nos anos 40 e 50, nomeado para um Óscar pela escrita de Encruzilhada (Crossfire, com Robert Mitchum), e um dos mais conhecidos cultores do género noir. Isto ajuda a explicar muito do gosto de Brubaker pelo thriller, pelo policial noir e pelos pulps, e também está na origem de The FADE OUT, que se inspirou muito na sua vida, como o próprio Brubaker nos explica no prefácio ao livro, que aqui reproduzimos.

 

Prefácio

Em casa da minha Tia Sarah Jane e do meu Tio John, em Hollywood Hills, havia uma prateleira alta com uma fila de livros encadernados a cabedal. Ficava sempre a olhar para eles quando íamos de férias a Los Angeles. E, um dia, puxei um desses livros, e descobri que era, na verdade, um argumento para um filme. Aquela prateleira só tinha argumentos - era um registo impresso da carreira do meu tio em Hollywood.

Eu era só um miúdo e, portanto, não fazia ideia de como o meu tio, John Paxton, tinha sido importante nos anos 40 e 50. Crossfire (Encruzilhada), On the Beach (A Hora Final), The Wild One (O Selvagem) - estes foram apenas alguns dos nomes que pude ler naquelas lombadas, juntamente com Farewell My Lovely, lançado pela RKO sob o nome Murder My Sweet (Enigma). Ele tinha feito parte da Idade de Ouro de Hollywood, tinha sido nomeado para Óscares, e escreveu guiões para a Ingrid Bergman e o Marlon Brando.

Claro que, na altura em que o conheci, a carreira dele estava praticamente acabada, e dizer que ele tinha sentimentos ambíguos acerca da indústria cinematográfica, ou uma grande amargura sobre as coisas que tinha visto e vivido, seria um eufemismo. Um dos melhores amigos dele nos anos 40 tinha sido o produtor Adrian Scott, e o realizador com quem mais tinha trabalhado na altura era o Edward Dmytryk, dois dos Hollywood Ten, que foram proibidos de trabalhar na indústria e foram presos, no início do pânico da Ameaça Vermelha, por suspeitas de serem comunistas.

O meu tio e a minha tia conheciam muitos homens e mulheres cujas vidas tinham sido destruídas durante aqueles anos, por se recusarem a admitir as suas crenças políticas e pessoais, ou por se recusarem a denunciar outros por aquilo em que eles acreditavam. É difícil imaginar o que homens como Fritz Lang ou Billy Wilder, que tinham fugido da Alemanha de Hitler, pensaram quando viram aquelas audiências no Congresso.

Hollywood, naqueles anos do boom do pós-Segunda Guerra Mundial, foi uma das últimas corridas ao ouro da América. Muitos foram para lá, à procura de fama e fortuna, mas poucos tiveram sucesso. E os que tiveram, muitas vezes sacrificaram muito de si mesmos no processo. Os estúdios controlavam a vida dos actores, os magnatas mandavam em toda a gente, e os fixers usavam qualquer meio para conseguir manter o público completamente ignorante das verdadeiras vidas das estrelas. E nessa mistura já volátil entrou de repente um FBI paranóico e o House Un-American Activities Committee (Comité de Actividades Antiamericanas), para tornar tudo ainda pior.

É este o mundo em que a nossa história decorre - um mundo em que estrelas de cinema e guionistas e magnatas estavam todos aterrorizados com a possibilidade de perderem tudo, em que amigos se viravam contra amigos, onde jornalistas bisbilhoteiros arruinavam carreiras, e guionistas desesperados denunciavam amigos que eles sabiam que já tinham sido expostos, para poderem continuar a trabalhar apesar da vergonha, e onde argumentistas na lista negra, como Dalton Trumbo, só conseguiam ganhar a vida utilizando “testas-de-ferro” - escritores que não estavam na lista negra e que assinavam os argumentos por eles.

Foi uma era muito negra em Hollywood, naquela Hollywood que criou o género do Film Noir, e espero que a achem tão fascinante e tão desoladora como eu acho.

Ed Brubaker

Para mais sobre o tio de Ed Brubaker:

https://en.wikipedia.org/wiki/John_Paxton